sexta-feira, 19 de outubro de 2012

FORMATO DOS TRABALHOS

 FORMATO DOS TRABALHOS
Os trabalhos acadêmicos,  se impressos,  devem ser apresentados em papel branco  ou reciclado, formato A4 (21 cm x 29,7 cm), digitados  em cor preta, podendo utilizar outras cores somente para ilustrações. Os elementos pré-textuais devem iniciar  no anverso(parte da frente) das folhas,
com exceção  dos dados internacionais de catalogação na publicação  (ficha catalográfica  -quando for o caso), que devem vir no verso da folha de rosto.
A NBR/ABNT 14724:2011 recomenda que os elementos textuais e pós-textuais sejam digitados ou datilografados no anverso e verso das folhas.
O projeto gráfico é de responsabilidade do autor do trabalho, mas a ABNT recomenda, para digitação, a utilização de fonte tamanho 12 para todo o trabalho,  inclusive a capa,  excetuando-se as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, paginação, dados internacionais
de catalogação na-publicação,  legendas  e fontes  das ilustrações e das tabelas que devem ser
digitadas em tamanho menor e uniforme.
Para o corpo do texto deve-se observar a padronização dos parágrafos, utilizando-se
1,25 cm como recuo.
6.2   Margens
No anverso da folha  No verso da folha
Esquerda e Superior: 3 cm
Direita e Inferior: 2 cm
Direita e superior: 3 cm
Esquerda e inferior: 2cm
6.3   Espacejamento (ou espaçamento)
Todo o texto deve ser digitado  ou datilografado  com espaço 1,5  entre as linhas, exce-tuando-se as citações de mais de três linhas, notas de rodapé, referências, legendas das ilustra-ções e das tabelas, natureza do trabalho(tipo do trabalho, objetivo, nome da instituição a que é
submetido  e área de concentração), que devem ser digitados  ou datilografados  em espaço
simples. As referências, ao final do trabalho, devem ser separadas entre si por um espaço sim-ples em branco.
Na folha de rosto e na folha de aprovação,  o tipo do  trabalho, o objetivo, o nome da
instituição a que é submetido e a área de concentração devem ser alinhados do meio da mancha gráfica para a margem direita.
Retirado do "Manual de ElaboraçÃo e Apresentação de trabalhos Acadêmicos" da UNIFAN.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

USO DOS PORQUÊS.



O USO DOS "PORQUÊS"

     Existem na Língua Portuguesa quatro tipos de "PORQUÊS"
Não é difícil aprender, basta querer. Observe:

POR QUE (separado e sem acento) - usado para fazer perguntas, mas só se usa no início ou no meio da frase.
Ex: Por que você faltou na aula hoje?
      Eu queria saber por que você faltou na aula hoje?

POR QUÊ (separado com acento) - também usado para perguntas, mas só se aparecer no final da frase.
Ex: Você faltou na aula ontem por quê?

*OBSERVAÇÃO: os dois "PORQUÊS" separados só são usados para perguntas.

PORQUE (junto sem acento) - usado para respostas, sem importar se aparece no início, meio ou final da frase.
Ex: Faltei porque estava doente.

PORQUÊ (junto com acento) - equivale a MOTIVO, ou seja, se der para trocar o PORQUÊ pela palavra MOTIVO, então teremos um PORQUÊ junto com acento. Esse porquê virá sempre acompanhado de um artigo : O ou UM.
Ex: Gostaria de saber O PORQUÊ da sua falta?   (O MOTIVO)
       Me dê UM PORQUÊ dessa atitude. (UM MOTIVO)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Aula 1-10/10/2012 - Classe de Palavras.



CLASSE DE PALAVRAS
SUBSTANTIVO – é dita a classe que dá nome aos seres, mas não nomeia somente seres, como também sentimentos, estados de espírito, sensações, conceitos filosóficos ou políticos, etc.
Exemplo: Democracia, Andréia, Deus, cadeira, amor, sabor, carinho, etc.
ARTIGO – classe que abriga palavras que servem para determinar ou indeterminar os substantivos, antecedendo-os.
Exemplo: o, a, os, as, um, uma, uns, umas.
ADJETIVO  – classe das características, qualidades. Os adjetivos servem para dar características aos substantivos.
Exemplo: querido, limpo, horroroso, quente, sábio, triste, amarelo, etc.
PRONOME – Palavra que pode acompanhar ou substituir um nome (substantivo) e que determina a pessoa do discurso.
Exemplo: eu, nossa, aquilo, esta, nós, mim, te, eles, etc.
VERBO – palavras que expressam ações ou estados se encontram nesta classe gramatical.
Exemplo: fazer, ser, andar, partir, impor, etc.
ADVÉRBIO – palavras que se associam a verbos, adjetivos ou outros advérbios, modificando-os.
Exemplo: não, muito, constantemente, sempre, etc.
NUMERAL – como o nome diz, expressam quantidades, frações, múltiplos, ordem.
Exemplo: primeiro, vinte, metade, triplo, etc.
PREPOSIÇÃO – Servem para ligar uma palavra à outra, estabelecendo relações entre elas.
Exemplo: em, de, para, por, etc.
CONJUNÇÃO – São palavras que ligam orações, estabelecendo entre elas relações de coordenação ou subordinação.
Exemplo: porém, e, contudo, portanto, mas, que, etc.
INTERJEIÇÃO – Contesta-se que esta seja uma classe gramatical como as demais, pois algumas de suas palavras podem ter valor de uma frase. Mesmo assim, podemos definir as interjeições como palavras ou expressões que evocam emoções, estados de espírito.
Exemplo: Nossa! Ave Maria! Uau! Que pena! Oh!

Aula:2-11/10/2012-Pronomes demonstrativos, dêixis, anáfora e catáfora



Colégio Sena Aires.
Professor: João Edesio.
Língua Portuguesa.
Pronomes demonstrativos, dêixis, anáfora e catáfora.
Observe os seguintes pronomes demonstrativos: este, esta, isto, esse, essa, isso. Como veremos, há diferenças de usos desses pronomes quando se fala e quando se escreve. Para tentar explicar essas diferenças, recorreremos à linguística textual.
A linguística textual nos ensina que um texto, para ser bem construído, ou seja, para ter textualidade (textualidade é o que faz de uma sequência linguística um texto e não um amontoado de frases ou palavras), tem de ter, basicamente, coesão e coerência.
Como se sabe, a coerência estaria ligada à possibilidade de estabelecimento de um sentido para o texto. Tal sentido obrigatoriamente tem de ser do todo, posto que a coerência é global. A coesão,
por sua vez, estaria ligada, segundo os estudiosos dessa área do conhecimento, às partes superficiais, lineares, em outras palavras, à questão propriamente linguística do texto. De modo que a coesão seria obtida, parcialmente, através da gramática e, parcialmente, através do léxico.
Para o objetivo do nosso estudo, nos deteremos somente aos fatores de coesão. Sendo assim, os principais fatores de coesão textual, segundo Fávero e Koch (2002, p. 38), são: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção (conexão) e a coesão lexical. Restringindo ainda mais este estudo, de acordo com nosso propósito, vejamos o que seja a referência.
Referência
Referência é definida, por Haliday e Hasan (1973), como um movimento de recuperação de elementos, que estão tanto dentro quanto fora do texto. Para separar esses dois tipos de referência, os autores denominaram exóforas as referências situacionais e endóforas as textuais.

As referências endofóricas se subdividem em aquelas que se referem a elementos anteriores (denominadas de anáforas) e aquelas que se referem a elementos posteriores (as catáforas). Acrescentamos aqui a noção de dêixis (ou díxis) à referência situacional (exofórica). Esquematicamente (de acordo com Fávero e Koch):
Página 3


A dêixis (ou díxis) designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões dêiticas) que têm como função "apontar" para o contexto situacional (exófora) de uma dada interação.
Pronomes demonstrativos em função dêitica ou exofórica. (fala)
Acreditamos que, deste modo, facilita-se o entendimento do uso dos pronomes demonstrativos, na medida em que o deslocamos para o quadro geral da teoria da enunciação. Ou seja, para dentro da cena da interação linguística face a face, em que o uso dos pronomes demonstrativos se faz mediante a função dêitica (espacial), por quem fala no momento em que fala. Assim:
a) Esta cadeira está quebrada. (= Esta cadeira [aqui perto de mim que falo, primeira pessoa do discurso] está quebrada.)
b) Passe-me essa caneta, por favor! (= Passe-me essa caneta [que está aí perto de
você a quem falo, segunda pessoa do discurso], por favor).
c) Isso é seu? Refiro-me a essa bela gravata que está em seu pescoço.
d) Isto é meu! Estou falando deste relógio que está em meu pulso.
Pronomes demonstrativos em função endofórica ou textual
1. Por meio da anáfora (isto é, ao que precede) estabelece-se uma relação coesiva de referência que nos permite interpretar um item ou toda uma ideia anteriormente expressa no texto, por exemplo, pelos pronomes demonstrativos essa, esse, isso, como a seguir:
a) "Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha." [= Essa ideia de poder comprar ou vender o céu, o calor da terra.]
b) "Busquei, primeiro, o amor porque ele produz êxtase [...]. Eis o que busquei e, embora, isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que - afinal - encontrei." [primeiro "isso" = a busca do amor; segundo "isso" = o amor].
(Bertrand Russel. Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967)
c) Pedro foi preso como estelionatário. Esse cara nunca me enganou. [Esse cara = Pedro].
2. Um elemento de referência é catafórico quando sua interpretação depender de algo que se seguir no texto; aqui, ele será representado pelos pronomes demonstrativos esta, este e isto. Exemplos:
a) Estas foram às últimas palavras do meu mestre: seja sincero com seus discípulos.
b) Quando saí de casa, meu pai me disse isto: seja bom, ame o próximo, e respeite a vida.
c) Este foi um divertido anúncio de uma revista: "Cara, se, tipo assim, o seu filho escrever como fala, ele tá ferrado!".
Referências bibliográficas
  FÁVERO, L. L. e KOCH, I. G. V. Linguística Textual: introdução. São Paulo: Cortez, 2002.
  HALLIDAY, M. A. K. E HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1973.

sábado, 14 de julho de 2012

Transcendência Cristã e Imanência Moderna

Transcendência Cristã e Imanência Moderna

Achamos a característica específica do pensamento clássico na solução dualista do problema metafísico. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não governa o mundo. Tal dualismo não será negado, mas desenvolvido no pensamento cristão mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade e a distinção entre o mundo e Deus, mas Deus é feito criador e regedor do mundo: o mundo não pode ter explicação a não ser em um Deus que transcende o mundo. O pensamento moderno, ao contrário, finaliza em uma concepção monista-imanentista do mundo e da vida: não somente Deus e o mundo são a mesma coisa, mas Deus é resolvido num mundo natural e humano. Consequentemente, não se pode mais falar em transcendência de valores teoréticos e morais, religiosos e políticos, pois "ser" e "dever ser" são a mesma coisa, o "dever ser" coincide com o "ser".
É evidente que a passagem da concepção dualista (clássica) à concepção teísta (cristã) é um desenvolvimento lógico, que se manifesta especulativamente no desenvolvimento tomista de Aristóteles. Pelo contrário, a passagem da concepção tradicional, teísta, à concepção moderna, imanentista, representa teoricamente uma ruptura. O pensamento moderno, todavia, especialmente o pensamento da Renascença, tem seu precedente lógico no panteísmo neoplatônico, que - após ter-se afirmado como extrema expressão do pensamento clássico - permanece através de todo o pensamento cristão em tentativas mais ou menos ortodoxas de síntese entre cristianismo e neoplatonismo (Pseudo Dionísio, Scoto Erígena, Mestre Eckart, etc.). E, por outra parte, o pensamento tradicional, helênico-escolástico, aristotélico-tomista, encontrará nos grandes valores da civilização moderna (a ciência natural, a técnica, a história, a política) sua integração lógica.
Não se julgue demolir a filosofia medieval, a metafísica tomista, opondo à sua elementar e fantástica ciência da natureza a ciência moderna com suas grandes aplicações técnicas, pois não é a ciência natural - capaz apenas de resolver os problemas da vida material, mas incapaz de resolver os problemas máximos da vida, espirituais, morais, religiosos - que pode decidir do valor de uma civilização. E a ciência natural da Idade Média não está absolutamente em conexão com o pensamento filosófico medieval; o próprio Tomás de Aquino julgava logicamente que a filosofia podia ser uma só, em adequação à realidade, ao passo que admitia a possibilidade de uma ciência natural diversa daquela do seu tempo. Além disso, se, de fato, a escolástica pós-tomista, decadente, alimentou suspeitas e combateu longamente contra a nascente ciência moderna, a favor da velha ciência natural aristotélica, a nova escolástica, isto é, o novo tomismo, não teve dificuldade alguma em aceitar toda a ciência natural moderna, e, como tal, porquanto esta representa uma valor infra-filosófico, e, como tal, indiferente à filosofia, à metafísica.
O valor da ciência moderna não é teorético, especulativo, metafísico, mas empírico e técnico. Tal era também o pensamento do grande fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmava ser o objeto da ciência não as essências metafísicas das coisas, e sim os fenômenos naturais, experimentalmente provados e matematicamente conexos. E destes conhecimentos experimentais e matemáticos de fenômenos naturais derivava ele as primeiras grandes aplicações técnicas da ciência moderna. Aplicações técnicas que possuem também um valor espiritual, o do domínio natural do homem sobre a natureza: contanto que o homem reconheça, naturalmente, acima de si e de tudo, Deus.
O que dissemos da ciência, podemos dizê-lo analogamente da história. A historiografia medieval é, sem dúvida, insuficiente, ingênua, descuidada, pois, era escasso na mentalidade medieval o senso da concretidade e da individualidade, sem o qual não é possível a história verdadeira e própria. Mas a concepção medieval da história, que é a cristã e já teve a sua expressão clássica na Cidade de Deus de Agostinho é perfeitamente conciliável com a indagação histórica moderna, devendo esta última fornecer à primeira a sua rica contribuição de fatos, o seu profundo senso histórico, o seu interesse pela concretidade.
Costuma-se inculpar a civilização medieval por ter aniquilado o estado nacional concreto, orgânico, para construir uma unidade política grandiosa, mas abstrata, uma utopia universalista, como o Sacro Império Romano. No entanto, isto não foi senão uma expressão exterior daquela estrutura profunda que se chama a cristandade: equivalente civil da igreja católica, capaz de abraçar os mais diversos organismos políticos. Nem se deve esquecer que precisamente na comuna medieval se encontra a primeira origem do estado moderno, interiormente organizado e politicamente soberano. E é na Idade Média que se formam as grandes nações modernas. Noutras palavras, é na Idade Média que se formou o Estado distinto da Igreja, mas não leigo, imanentista, ateu, bem como o laicado distinto do clero e organizado civilmente em graus de corporações, mas cristão, católico, romano.
Poder-se-ia fazer notar que tal efetiva distinção e relativa autonomia do Estado (e do laicado) com respeito à Igreja (e ao clero) foram alcançadas através de uma longa luta contra o predomínio e a invasão destes últimos. Mas cumpre ter presente que, na alta Idade Média, no período bárbaro, nos séculos de ferro, a igreja romana e o clero católico desempenharam funções também leigas e profanas, como, por exemplo, a instrução cultural, a assistência hospitalar, e até a agricultura, a indústria, o comércio, as comunicações, etc., pelo fato de que ninguém estava em condições de fazê-lo. E é devido a isso que a civilização não pereceu, e foi conservada para a idade moderna. Aliás, a Igreja católica estava apta e disposta - a prescindir-se das intenções dos homens e de suas fraquezas fatais - a livrar-se desses cuidados estranhos gravosos e perigosos para o seu ministério transcendente e sobrenatural, quando os homens e os tempos estivessem maduros. Basta lembrar, a este respeito, a atitude da Igreja, praticamente liberal, compreensiva e ativa com respeito ao Estado, desde os comunas medievais até às grandes monarquias européias do século XVII e ainda além.

Os Precedentes do Pensamento Moderno

Dada a ruptura lógica entre o pensamento tradicional, teísta, e o pensamento moderno, imanentista, não se podem achar causas racionais dessa mudança, mas apenas práticas e morais. Em seguida virá a justificação teórica da nova atitude espiritual, que será constituída por todo o pensamento moderno em seu desenvolvimento lógico.
O grandioso edifício ideal da Idade Média, em que a religião e civilização, teologia e filosofia, Igreja e Estado, clero e laicado, estavam harmonizados na transcendente unidade cristã, foi, de fato, destruído pelo humanismo imanentista, que constitui o espírito característico do pensamento moderno. Este pensamento começa com a prevalência dada aos interesses e aos ideais materiais e terrenos, com o conseqüente esquecimento dos interesses e ideais espirituais e religiosos; e torna-se completo com a justificação dos primeiros e a exclusão dos segundos. É precisamente o que acontece com os homens inteiramente entregues aos cuidados mundanos: primeiro se esquecem das coisas transcendentes, e, em seguida, querendo ser coerentes, negam-nas.
Entretanto, se não há causas lógicas do pensamento moderno, há, porém, precedentes especulativos, que, valorizados pela nova atitude espiritual, se tornarão fontes especulativas do próprio pensamento moderno. Tais precedentes especulativos podem ser resumidos desta forma: o panteísmo neoplatônico, o aristotelismo averroísta e o nominalismo ocamista, os quais foram-se afirmando contemporaneamente a uma gradual decadência do genuíno pensamento escolástico (racional, teísta, cristão), especialmente tomista, com que se acham em oposição. E tal decadência cultural é acompanhada, por sua vez, pela decadência da Igreja e do Papado - o exílio avinhonês e o cisma do ocidente.
O panteísmo neoplatônico teve a sua primeira grande manifestação, no âmbito do cristianismo, com Scoto Erígena. Tentará afirmar-se de novo na própria época de Tomás de Aquino com Mestre Eckart, o iniciador da mística alemã. E receberá uma nova original elaboração do Humanismo com Nicolau de Cusa, que não pouco deve aos precedentes; e, sobretudo, com Giordano Bruno, o maior pensador da Renascença, o qual depende, por sua vez, de Nicolau de Cusa. O averroísmo latino afirmara na Idade Média a sua famosa doutrina das duas verdades: o que não é verdadeiro em filosofia pode ser verdadeiro em religião e vice-versa. Em uma idade cristã, como a Idade Média, a afirmação religiosa podia Ter a prevalência sobre a negação filosófica; obscurecendo-se a fé, como na Renascença, devia prevalecer uma concepção anti-cristã, aristotélica ou não. O occamismo marca a conclusão lógica da decadente escolástica pós-tomista, apesar de seus partidários se comprazerem em denominá-la via modernorum. E, ao mesmo tempo, apresenta um elemento fundamental da filosofia moderna com o seu empirismo e nominalismo. Nicolau de Cusa, Telésio, Bruno, Campanella serão também herdeiros do nominalismo empirista de Occam, que se combina, nos sistemas deles, com uma metafísica aventurosa de cunho particularmente neoplatônico.
Como é sabido, segundo Occam, o conhecimento humano é reduzido ao conhecimento sensível do singular e, portanto, ao nominalismo. Conseqüência lógica e consciente é a destruição da metafísica, que transcende o mundo empírico, sensível, bem como da ciência, que é entretecida de conceitos, impossíveis de nominalismo, de sorte que se esvai da teodicéia, porquanto não se pode provar racionalmente a existência de Deus, nem conhecer a sua natureza; e a psicologia racional, pelo mesmo motivo. E, consequentemente, torna-se impossível a ética racional, porque - sendo desconhecida a essência de Deus e destruída a do homem - a moral fica reduzida a um conjunto de preceitos arbitrários de Deus, que o homem tem que observar por fé. Occam procurará salvar-se do ceticismo - conclusão do seu sistema, com todas as conseqüências práticas - mediante a fé. Entretanto é uma posição insustentável, porquanto a fé - não podendo mais ser um racional obséquio - torna-se uma adesão cega. Em época de religiosidade ainda viva, esse fideísmo ocamista pôde praticamente ficar de pé. Mas ruirá quando a fé vier a faltar, deixando o terreno livre ao empirismo, ao naturalismo, ao nominalismo, ao ceticismo, imanentes ao ocamismo, e que constituirão tão grande parte do pensamento da Renascença, da Reforma e também do pensamento posterior.

Os Períodos do Pensamento Moderno

Este grande movimento especulativo, que é o pensamento moderno, naturalmente não se manifesta na sua significação imanentista senão na plenitude do seu desenvolvimento. Portanto, manifesta-se através de uma série de períodos, que se podem historicamente (e dialeticamente) indicar assim:
1. - Antes de tudo a Renascença , em que a concepção imanentista, humanista ou naturalista, é potentemente afirmada e vivida. Trata-se, porém, de uma afirmação ainda não plenamente consciente e sistemática, em que o novo é misturado com o velho. Este, muitas vezes, prevalece, ao menos na exterioridade da forma lógica e literária. A Renascença é preparada pelo Humanismo, e tem como seu equivalente religioso a reforma protestante.
2. - A este primeiro período do pensamento moderno, que, substancialmente, abrange os séculos XV e XVI, se seguem o racionalismo e o empirismo, que abrangem os séculos XVII e XVIII. Após a revolução renascentista e protestante, sente-se a necessidade de uma séria indagação crítica, não para demolir aquelas intuições revolucionárias, mas, ao contrário, para dar-lhes uma sistematização lógica. É o que fará especialmente o racionalismo em relação ao conhecimento racional.
3. - E outro tanto fará e empirismo em relação ao conhecimento sensível. Empirismo e racionalismo são tendências especulativas, gnosiológicas, opostas entre si, como a gnosiologia sensista está certamente em oposição à gnosiologia intelectualista. Entretanto, concordam em um comum fenomenismo, pois, em ambos, o sujeito é isolado do ser e fechado no mundo das suas representações. Não se conhecem as coisas e sim o nosso conhecimento das coisas.
4. - Empirismo e racionalismo, após uma lenta, gradual e silenciosa maturação, encontrarão uma saída prática, social, política, moral, religiosa no iluminismo e, portanto, na revolução francesa (Segunda metade do século XVIII); esta representa a concreta realização do pensamento moderno na civilização moderna. Esse movimento começa na Inglaterra, triunfa na França e se espalha, em seguida, na Alemanha e na Itália.

O Problema da Causalidade

O Problema da Causalidade

Segundo a Investigação sobre o Entendimento

Não temos necessidade de temer que esta filosofia, na medida em que tenta limitar nossas pesquisas à vida corrente, nunca destrua os raciocínios de vida corrente e leve suas dúvidas tão longe a ponto de destruir toda ação como toda especulação. A natureza sempre manterá seus direitos e, no fim, prevalecerá sobre os raciocínios abstratos. Mesmo que concluamos, por exemplo, que em todos os raciocínios tirados da experiência o espírito dá um passo que não é sustentado por nenhum progresso do entendimento, não há nenhum perigo que esses raciocínios, dos quais depende quase todo conhecimento, sejam afetados por tal descoberta. Se o espírito não está obrigado a dar esse passo por meio de um argumento, ele deve ser conduzido por outro princípio igual em peso e em autoridade; tal princípio conservará sua influência por tanto tempo que a natureza humana permanecerá a mesma. A natureza desse princípio bem merece que nos entrguemos ao esforço de investigar sobre ela.
Suponha-se que um homem, dotado das mais poderosas faculdades de razão e de reflexão, seja subitamente transportado por este mundo; certamente ele observaria de imediato uma contínua sucessão de objetos, um acontecimento seguir-se a outro; mas seria incapaz de descobrir outra coisa. De saída, ele seria incapaz, por meio de algum raciocínio, de atingir a idéia de causa e efeito, pois os poderes particulares que concretizam todas as operações naturais nunca se apresentam aos sentidos; e não é razoável concluir, unicamente porque um acontecimento precede outro em um único caso, que um seja a causa e o outro o efeito. Sua formação pode ser arbitrária e acidental. Não existe razão para se inferir a existência de um pela aparição do outro. Numa palavra, aquele homem, sem mais experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios sobre qualquer questão de fato; só estaria certo do que está imediatamente presente em sua memória e em seus sentidos.
Suponha-se ainda que este homem tenha adquirido mais experiência e que tenha vivido por muito tempo no mundo para que tenha observado a conjugação constante de objetos e de acontecimentos familiares; que resulta dessa experiência? Ele imediatamente infere a existência de um dos objetos pela aparição do outro. Todavia, ele não adquiriu, com toda sua experiência, nenhuma idéia, nenhum conhecimento do poder oculto pelo qual um dos objetos produz o outro; e não é por nenhum progresso de raciocínio que ele é obrigado a chegar a esta conclusão. Mas ele sempre se acha determinado a tirá-la; e, mesmo que o convencêssemos que seu entendimento de modo algum participa na operação, ele continuaria a ter o mesmo pensamento. Existe um outro princípio que o determina a estabelecer tal conclusão.Esse princípio é o costume, o hábito. Pois, todas a vezes que a repetição de uma operação ou de um ato particular produz uma tendência no sentido de renovar o mesmo ato ou a mesma operação sem o impulso de qualquer raciocínio ou progresso do entendimento, dizemos sempre que essa tendência é o efeito do costume. Ao empregar esta palavra não pretendemos ter dado a razão última de tal tendência. Apenas designamos um princípio de natureza humana, universalmente reconhecido e bem conhecido por seus efeitos.

O Problema do Mal

(Discurso de Filon nos Diálogos sobre a Religião Natural, capítulo XI)

Se todas as criaturas vivas fossem incapazes de sofrer ou se o mundo fosse administrado por volições particulares, o mal nunca teria acesso ao universo; e se os animais fossem dotados de uma ampla provisão de forças e de faculdades. se as diversas forças e princípios do universo fossem exatamente construídos para sempre conservar o temperamento justo e o justo meio, necessariamente teria havido muito pouco mal em comparação ao de que nos ressentimos efetivamente. Que diremos então nesta ocasião? Diremos que tais circunstâncias não são necessárias e que facilmente poderiam ter sido mudadas no arranjo do universo? Tal decisão parece demasiado presunçosa para criaturas tão cegas e ignorantes como nós. Sejamos mais modestos em nossas conclusões. Convenhamos que, se a bondade divina - entendo uma bondade tal qual a do homem - pudesse ser estabelecida por razões a priori admissíveis, esses fenômenos, por mais deploráveis que fossem, não bastariam para perturbar o dito princípio, mas poderiam facilmente, de algum modo desconhecido, se conciliar com ele. Todavia, afirmamos que, como essa bondade não é previamente estabelecida, mas deve ser inferida segundo os fenômenos, não pode haver nenhum motivo em favor de tal inferência, quando existem tantos males no universo, e que teria sido tão fácil remediar isto para tanto que o entendimento humano possa ser admitido a julgar em tal assunto. Sou suficientemente cético para convir que as más aparências, não obstante todos os meus raciocínios, podem ser compatíveis com tais atributos. Tal conclusão não poderia resultar do ceticismo: é preciso que ela provenha dos fenômenos e de nossa confiança nos raciocínios que deles deduzimos.
Vejam este universo em torno de vocês. Que imensa profusão de seres animados e organizados, sensíveis e agentes! Vocês admiram esta variedade e esta fecundidade prodigiosa. Mas examinem um pouco mais de perto essas existências vivas, as únicas que vale a pena considerar. Como são hostis e destruidoras umas para as outras! Como são insuficientes, tanto quanto são, para sua própria felicidade! Quão desprezíveis ou odiosas para o espectador! O todo só suscita a idéia de uma natureza cega, impregnada por um princípio vivificante e que deixa cair de seu regaço, sem discernimento nem cuidados maternos, seus filhos estropiados e abortados!
Aqui o sistema maniqueu se apresenta como uma hipótese adequada para resolver a dificuldade; e, sem dúvida, num certo sentido, ele é mais especioso e apresenta mais probabilidades do que a hipótese comum, na medida em que dá uma explicação plausível da estranha mistura de bem e de mal que surge na vida. Mas, por outro lado, se considerarmos a uniformidade e a concordância perfeitas das partes do universo, não descobriremos aí qualquer marca do combate de um ser malfazejo contra um ser benfazejo. É certo que existe uma oposição entre dores e prazeres nas afecções das criaturas sensíveis; mas todas as operações da natureza não se realizam por uma oposição de princípios como quente e frio, úmido e seco, leve e pesado! A verdadeira conclusão é que a fonte original de todas as coisas é inteiramente indiferente a todos esses princípios e prefere tanto o bem ao mal quanto o quente ao frio, o seco ao úmido ou o leve ao pesado.
Existem quatro hipóteses possíveis no que se refere às primeiras causas do universo: que são dotadas de perfeita bondade, que possuem perfeita maldade, que são opostas e ao mesmo tempo possuem bondade e maldade e que não possuem bondade nem maldade. Fenômenos mistos nunca poderiam provar os dois primeiros princípios, que são isentos de mistura. A uniformidade e a firmeza das leis gerais parecem se opor ao terceiro. Por conseguinte, o quarto parece muito mais provável.

Texto: Autor desconhecido.