sábado, 28 de agosto de 2010

INATISMO E EMPIRISMO.

Na idade Moderna, a filosofia muda a sua perspectiva de analise. Depois de vários anos de repreensão racional, considerado Idade Media uma época em que a racionalidade era tida com heresia e pecado. Uma época em que o cristianismo tinha mais fundamentação política do que religiosa onde o mito e a ignorância predominavam como instrumento de opressão e sujeição. Esse era o cenário de uma época em que a ciência e o desenvolvimento humano ficaram retardados e sem fruto racional para o progresso da humanidade.

Depois desse período vem o chamado período do renascimento, esse período como o próprio nome diz, é o renascer da razão e da investigação para o desenvolvimento do homem que retardou onze séculos.

Nesse período, houve varias manifestações culturais, artísticas e filosóficas. E um pensamento que ficou obscurecido pela repressão do catolicismo fora o Empirismo e o Racionalismo, duas correntes filosóficas que estudam a epistemologia ou axiologia.

No Renascimento ou também chamado de Idade Moderna, alguns filósofos irão resgatar esse tema e analisá-lo de forma bem peculiar.

E esse trabalho tem como perspectiva destacar três filósofos de cada teoria do conhecimento.

Iniciaremos pelo Inatismo (Racionalismo).

O que quer dizer essa palavra Inatismo? Quando essa teoria surgiu e quem foi o primeiro a desenvolver essa teoria? Quais e o representante dessa teoria na Idade Moderna?

Essas três perguntas orientarão o desenvolvimento da teoria Inatista.

Segundo Chauí em seu livro Convite à Filosofia, ela diz “O Inatismo afirma que ao nascermos trazemos em nossa inteligência não só os princípios racionais, más também algumas ideias verdadeiras, que, por isso, são ideias inatas” (Chauí, 2004, pg.69).

Essa teoria tem como princípio afirmar que o homem não nasce desprovido de um conhecimento, mas, que ao nascer o homem tem um conhecimento que precisa ser despertado através do dia a dia e de um contato com o objeto ou com a realidade.

Um dos precursores dessa teoria foi o filósofo pré-socrático Parmênides que viveu 530-460.

O grande principio da verdade de Parmênides, que é o próprio principio da verdade (o “sólido coração da verdade robusta”), é este: o ser é e não pode ser; o não-ser não é e não pode ser de modo nenhum. “Ser” e “não ser”, portanto, são tomados no significado integral e unívoco: o ser é o positivo puro e o não-ser é o negativo puro, um é o absoluto contraditório do outro. A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não se pode pensar a não ser pensando aquilo que é. Pensar o nada significa não pensar de fato, e dizer o nada significa não dizer nada. Por isso o nada é impensável e indizível. Assim, pensar e ser coincidem: “...pensar e ser é o mesmo”. (Reale, Antiseri, 2003, pg,33).

Quando ele diz “pensar e ser é o mesmo” ele afirma a teoria inatista, onde só pensamos aquilo que é pensável. Esse pensamento de Parmênides parece ser o ponto de partida para o pensamento da Idade Moderna de René Descartes, quando ele diz “Penso logo existo”

Na Idade Moderna, surge um homem chamado René Descartes, um racionalista que vai romper com o pensamento estabelecido. Um pensamento ainda com resquício da Idade Media.

René Descartes, foi um pensador alemão que viveu nos anos de 1596 a 1650, foi um grande filósofo da sua época. Sua principal filosofia era a existência do ser enquanto ser pensante.

René Descartes parte do principio da indução, onde podemos fazer interferências a partir daquilo que já sabemos.

“As idéias claras e distintas são idéias gerais que não deriva do particular, mas já se encontram no espírito como fundamentações para as apreensões de outras verdades. São idéias Inatas, verdadeiras, não sujeitas a erro, pois vêm da razão, independentes das idéias que “vêm de fora”, formadas pela ação dos sentidos, e das outras que nós formamos pela imaginação. Inatas porque são inerentes à nossa capacidade de pensar” (Chauí, 2004, pg.,131).

Todas as possibilidades de conhecermos têm como principio um conhecimento inato, algo inerente em nosso ser.

Para descartes o conhecimento não é proveniente de uma experiência, mas, sim de um ato racional para apreensão de outras verdades.

Descartes mostra que nosso espírito possui três tipos de idéias que se diferenciam segundo a sua origem e qualidades.

Idéia adventícias: (vindo de fora) (Chauí, 2004, pg., 70) Essas são as aquelas que se originam a partir de nossas sensações, percepções e lembranças, são idéias experiências sensoriais. Essa é enganosa, onde há uma variação de entendimento. Como por exemplo: andando no asfalto em um dia bem quente, adiante vejo um asfalto molhado, mas quando chego mais perto, vejo que era apenas o asfalto quente. Qual das duas imagem são reais? Essa idéia causada pelos sentidos é são ilógicas, pois estabelecem uma ambigüidade de imagem.

Idéias fictícias: essas são aquelas que criamos em nossa mente, em nossa imaginação, e que de fato nunca existiu, mas é real em nossa mente. Ela é muito usada na literatura, artes e contos infantis.

Idéias inatas: São idéias que de hipótese nenhuma poderia vir de uma experiência sensorial. Essas idéias são racionais, pois só podem existir por que já nascemos com ela. É idéia inerente a todos os homens.

De acordo com essas três idéias, percebemos que o homem já é presenteado por certo tipo de conhecimento prévio de todas as coisas, mas que se faz necessário um despertar para esse conhecimento.

Depois de analisarmos o pensamento Inatista e seu precursor na Idade Antiga, e depois de um grande tempo de obscuridade racional na Idade Media, Descartes teoriza essa teoria de forma mais abrangente, passaremos agora a analisar o pensamento Empirista.

O que quer dizer essa palavra Empirismo? Quando essa teoria surgiu e quem foi o primeiro a desenvolver essa teoria? Quem são os representantes dessa teoria na Idade Moderna?

Assim com na teoria Inatista, essas três perguntas nos orientarão nessa nova teoria.

O que quer dizer a palavra Empirismo?

Segundo Aranha e Martins, 2003, pg., 132 Empirismo é “Empirismo vem do grego empeiria que significa experiência”

O Empirismo é uma teoria que afirma que o conhecimento vem através da experiência cotidiana. Para se adquirir conhecimento segundo os empiristas se faz necessária experiência sensível do uso dos sentidos.

O que dizem os Empiristas?

A afirmação dos empiristas é que todo nosso conhecimento advém da experiência dos sentidos, isto é das sensações. Tudo aquilo que é sentido excitam nossos sentidos produzindo assim certa forma de conhecimento. Por exemplo: cor, frio, calor, são uma forma de conhecimento advindo da experiência. Se uma pessoa nunca fosse exposta ao frio, como que ela poderia identificar se estava com frio? Seria impossível essa identificação sem uma experiência prévia. Por isso todo conhecimento empirista esta associado a sensibilidade dos sentidos.

Na Idade Moderna, temos vários representantes dessa teoria, são alguns deles: Francis Bacon, John Locke e Leonardo Boff.

Francis Bacon (1561-1626) é um empirista que remonta e realça Rogers Bacon, em sua ciência que poderia desempenhar na vida da humanidade.

Segundo Bacon, o conhecimento para tornar uma ciência se faz necessário um experimento onde haverá uma constatação e uma dominação da natureza.

Francis Bacon critica a lógica aristotélica fundamentada no ideal dedutivista onde dificultam a apreensão da realidade.

Para Francis Bacon, a indução é um método onde se faz uma associação e depois dessa associação uma constatação por meio de um instrumento.

1) Ídolos da tribo:A saber, os erro da raça humana "fundamentados em a natureza como tal" (não se sabe, pois, o verdadeiro porquê);

2) Ídolo da caverna: (por alusão à caverna de Platão) determinados pelas disposições subjetivas de cada um.

3), Ídolos do foro: Erros da praça, provenientes do comércio social ou da linguagem imperfeita;

4) Ídolos do teatro: Isto é, os erros provenientes das escolas filosóficas, que substituem o mundo real por um mundo fantástico, por um jogo cênico.

Todos esses tipos e ídolos apresentado por Bacon, representa a sua teoria empirista.

Outro empirista é John Locke, viveu entre 1632-1704.

“Locke critica a doutrina da idéias inatas de Descartes, afirmando que a alma é como uma tabula rosa, como uma cera em que não há qualquer impressão, e o conhecimento só começa após a experiência sensível”. (Aranha, Martins, 2003, pg, 133).

Para Locke nossa alma é livre de todo conhecimento prévio, onde todo nosso conhecimento será impresso a partir das experiências. Não trazemos nada de onde viemos, e todas as formas de apreensão esta sujeita a um contato com o objeto, por meio dos sentidos que temos, sejam eles audição, visão, tato, paladar ou olfato.

John ao escolher esse caminho da psicologia ele distingue duas fontes possíveis para nossa idéia: a sensação e a reflexão.

Sensação é a modificação feita na mente por meio dos sentidos”. (Aranha, Martins, 2003, pg, 133).

Reflexão é a percepção que a alma tem daquilo que nela ocorre”. (Aranha, Martins, 2003, pg, 133).

Com essas palavras Locke diz que, a modificação feita através de uma experiência sensível traz uma mudança na mente que outrora era diferente. E nessa modificação ocorre a reflexão que ocasiona em uma idéia simples na mente.

Leonardo Boff, um teólogo brasileiro define essa palavra de forma mais abrangente e mais compreensiva em um dês seus livros chamando “Experimentar Deus “ele diz:

“Experiência é a ciência ou o conhecimento (ciência) que o ser humano sai de si mesmo (prep. em grego: ex: exposto a, esta orientado para fora) e procura compreender um objeto por todos os lados (prep. em grego: peri:ao redor ). A experiência na é um conhecimento teórico ou livresco. Mas é adquirido em contato com a realidade que não se deixa penetrar facilmente e que ate se opõe e resiste ao ser humano. Por isso em toda experiência existe um quociente forte de sofrimento e de luta”. (Boff, 2002, pg, 42).

A partir dessa definição de Leonardo Boff, podemos compreender que, o conhecimento é adquirido a partir da sensibilidade e de um contato com o objeto do conhecimento. Boff teoriza o conhecimento de Deus a partir de um contato com o homem.

Para o homem conhecer a Deus, não se pode apenas ter a idéia de Deus, mas sim experimentar Deus a cada dia no viver cotidiano com o próprio homem. Conhecer o homem como o próximo é o meio mais eficaz de conhecer a Deus.

Portanto durante séculos, vários homens se apegaram a desvendar a apreensão do conhecimento. Uns usaram o Inatismo para explicar, outros o Empirismo para mostra o único meio de apreensão do conhecimento.

Todas essas correntes de pensamentos tem fundamentações coerentes e eficazes, mas, todas também têm suas falhas e questionamentos.

Em qual se apegar e defender? Não tenho resposta e nem tenho a pretensão de persuadir alguém através dessa exposição das correntes de pensamento, mas apenas demonstra como esse pensamento influencia nosso modo de perceber a vida de forma diferente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CHAUÍ, Marilena; Convite à filosofia. Ed. Ática, ano, 2004.

ARRUDA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. Introdução à Filosofia. Ed. Moderna, São Paulo, ano,2003.

BOFF, Leonardo. Experimentar Deus. Ed. Versus, Campinas São Paulo,2002.